segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Nuvem

Hoje comprei uma nuvem. 
Coloquei todas as minhas fotos, vídeos, músicas e livros para não perder da memória. 
Lá suspensas são leves e impessoais. Não acumulam poeira, é verdade. Mas quem já tateou um bom livro e degustou uma boa bolacha, sabe do que estou falando: não há tablet com tela ultra hd que supere. O chiado no arranhar da agulha transcende as mídias pós-modernas. Não me livro de nenhuma delas: enquanto as nuvens colaboram com a minha rinite e aumentam meu acervo-virtual, óculos para uma velha edição daquele indispensável livro e vitrola para aquele vinil que não se vende mais. 






domingo, 28 de julho de 2013

O Mistério de Sartre

A ação do protesto nos diz muito,
Um país relativamente sério?
A apatia do congresso profere pouco,
Somos um absoluto mistério.

Queremos ser revelados, não relevados,
Na transparência da livre informação,
Patente, estampada, escancarada,
Cumprir o papel dos meios de comunicação,

Na incapacidade da manutenção da paz,
O jogo segue todos contra todos,
O mar ferve desgovernado e voraz,
Paraíso nunca existiu, o inferno são os outros

domingo, 7 de julho de 2013

Panela de Pressão

A panela de pressão sempre prestes a explodir, ferve os nervos e os grãos tão mais depressa do que suas irmãs. Vale o risco que se corre? O vapor d’água no seu interior não se dissipa prontamente aumentando a pressão, consequentemente a temperatura e cozinhando com a rapidez, talvez, de 2atm. O pino para controle da pressão chia como uma criança que ao chorar, avisa que precisa de atenção íntima e urgente. O corpo não é meramente uma máquina (apesar do coração-bomba), mas compartilha de lógica semelhante. Os conflitos internos e motins externos pressionam tanto os neurônios que, sem um escape (sem amor), poderiam explodir as fendas sinápticas e desfalecer o sugo pensante no interior do crânio. A diferença é que na vida não há válvula de segurança. Você está sempre em risco, uns se expõem mais do que outros, mas o gosto da comida, no fim, é o mesmo: gosto de terra. Ferver mais rápido e correr o risco ou caminhar calmo e paciente até esperar o ponto? Utensílio amado e temido pelas donas de casas, pelos comilões e, por que não, pelos poetas. É lata e metáfora para pensar a vida.  

domingo, 6 de janeiro de 2013

Gastro(eco)nomia



Os ingredientes dialogam no prato,
Até o paladar encontrar o ponto,
A alta culinária é pautada pelo extrato,
Ou todo aparato é temperado pelo estômago?

No mundo gourmet da ultra sofisticação,
O chef de cozinha da cara ao gosto,
Enquanto uns comem o que cabe no bolso,
Outros se deliciam no molho da ostentação,

Os sabores brigando na panela,
Na disputa de quem é mais caro,
No cardápio o gosto se revela,
Cifras de alimentar mil cavalos,

Caviar ou galinha-cabidela,
Encontram-se no mesmo destino,
A diferença no passar da régua,
É bagatela para o bolso do novo rico,

Alimentar até o intestino,
De ingredientes caros e exclusivos,
Uns degustam, outros goela abaixo,
De enxaguar a seca do nordestino,

Na gastro(eco)nomia o chef é um artista,
Seleciona com refinamento a matéria rústica,
Como quem escolhe para o quadro as tintas,
Como quem misturas as notas na música,

O pecado da gula no topo da lista,
Itália, China, França no cume da tradição,
O tecido da cadeia produtiva,
É refinamento de uma boa digestão,

Texturas, formas, gostos,
Sabores, cheiros, aromas,
Quem tem fome, mão no bolso,
Quem tem boca vai a Roma,

No caldo da alta cozinha,
O vinho é a satisfação de pagar,
O consumo na ponta da língua,
Satisfazer o ego e enganar o paladar.

Comer é mais que uma necessidade,
Uma metodologia evolucional,
Uma construção do hábito na sociedade,
Um processo emocional.